Uma receita de Bró e um Aió de Ouricuri.

Trechos de Os Sertões. Euclides da Cunha.

Ali está, em torno, a caatinga, o seu celeiro agreste. Esquadrinha-o. Talha em pedaços os
mandacarus que desalteram, ou as ramas verdoengas dos juazeiros que alimentam os magros
bois famintos; derruba os estipites dos ouricuris e rala-os, amassa-os, cozinha-os, fazendo um
pão sinistro, o "bró", que incha os ventres num enfarte ilusório, empanzinando o faminto;
atesta os jiraus de coquilhos; arranca as raízes túmidas dos umbuzeiros, que lhe dessedentam
os filhos, reservando para si o sumo adstringente dos cladódios do xiquexique, que
enrouquece ou extinguem a voz de quem o bebe, e demasia-se em trabalhos, apelando
infatigável para todos os recursos — forte e carinhoso — defendendo-se e estendendo à prole
abatida e aos rebanhos confiados a energia sobre-humana.
Baldam-se-lhe, porém, os esforços.

...sempre, depois de expugnar a casa, o soldado faminto não se forrava à ânsia de
almoçar, afinal, em Canudos. Esquadrinhava os jiraus suspensos. Ali estavam carnes secas ao
sol; cuias cheias de paçoca, a farinha de guerra do sertanejo; aiós repletos de ouricuris
saborosos. A um canto os bogós transudantes, túmidos de água cristalina e fresca. Não havia
resistir. Atabalhoadamente fazia a refeição num minuto. Completava-a largo trago de água.
Tinha, porém, às vezes, um pospasto crudelíssimo e amargo — uma carga de chumbo...gado diariamente adquirido — oito a dez cabeças — era, porém, um paliativo insuficiente
ao minotauro de 6 mil estômagos. Além disto, a carne cozida sem sal, sem ingrediente algum,
em água salobra e suspeita, ou chamuscada em espetos, era quase intragável. Repugnava à
própria fome.
As pequenas roças de milho, feijão da vazante e mandioca, que atenuavam a princípio a
sensaboria dessa alimentação de feras, exauriram-se prestes. Tornou-se necessário buscar
outros recursos.
Como os "retirantes" infelizes, os soldados apelaram para a flora providencial. Cavavam os
umbuzeiros em roda, arrancando-lhes os tubérculos túmidos; catavam cocos dos ouricuris, ou
talhavam os caules moles dos mandacarus, alimentando-se de cactos que a um tempo lhes
disfarçavam ou iludiam a fome e a sede. Não lhes bastava, porém, este recurso, que para os
mais inexpertos mesmo era perigoso. Alguns morreram envenenados pela mandioca brava e
outras raízes, que não conheciam.

Coxinha da asa confitada com molho-caramelo de cevada.

 
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Confitar é cozinhar em gordura, óleo, sem fritar, a baixa temperatura. Vem de confit – francês – cozinhar na própria gordura.

O bacana de usar essa técnica está em que o ingrediente mantem sua forma. O frango de granja é meu tour de force, é um produto barato e pelo preço não poderia ser melhor, a menos que nós consumidores deixássemos de consumi-lo. Inútil pensamento. Descolei do osso a carne da coxinha até sua junta anatômica. Não eliminei a pele, ela deixa sua suculência, Limpei o osso, inclusive a cartilagem da outra extremidade. Deixei-a a marinar toda uma manhã em vinho branco seco – Chapinha, por frutado e muito seco - estragão, algo de tomilho, uma folha de louro dichavada, umzinho cravo da índia, pimenta do reino branca e sal. Fiz uma infusão muito forte de cevada, 200ml. Fiz um caldo (200ml) de galinha – pedaços de frango bastante dourados em azeite de coco, cenoura, cebola muita e bem dourada e um tomate, cozidos por 45min, coados e reduzidos a aproximadamente 100ml. Fiz um refogadinho demorado, a fogo baixo, de cebola, alho e por fim tomate sem pele e sementes e bem picadinhos até emulsionar. Ah! Enquanto isso tinha as coxinhas da asa imersas em óleo de canola a 70ºC – mentira, sabe como faço, ponho a panela ao fogo com as coxinhas em óleo frio, antes de ferver desligo, quando esfria, volto ao fogo, antes de ferver, retiro, repito este processo por quatro vezes, quando a carne está por despegar-se do osso, finito, finiquito.
À tal refogadinho adiciono o caldo de galinha, (há este do Alex Atala, bom, muito bom) e a infusão de cevada. Deixo que atinjam juntos a fervura e diminuo o fogo, e que cozinhem por 10mim. Coo. Faço um caramelo com uma colher das de açúcar de açúcar mascavo e o diluo com o líquido coado. Quando tudo estiver a ponto de caramelo, já o tenho. Passo as coxinhas confitadas pelo caramelo de cevada, sirvo-as com mais caramelo de cevada e umas florezinhas de manjericão. A combinação das florezinhas de manjericão com o molho-caramelo de cevada foi fantástica. Este molho de cevada a ponto de mel, seja com a viscosidade do mel é uma delícia em torradinhas.

Bisque Biscáia Bizkaiko de camarões.

Bizkaiko Golkoa, Baia Biscaina
Bisque de Camarão



A coisa remete à baia de Biscaia. Bizkaiko Golkoa. Mar Cantábrico.
Pescadores e pedreiros sempre foram bons bebedores e de certa maneira não fruem dos melhores produtos de seus trabalhos. Não sei se bebem por isso ou se em vista de, também o fazem. Nos primórdios desvencilhavam-se, das cabeças de camarões estropeados pelas redes e daqueles que o mercado não consumia, ali mesmo, em alto mar. Claro é que no calor da luta e um brandy (cognac, conhaque) como companheiro, a tudo se espanta, inclusive a fome. A falta de amada ou mesmo a negativa dela são boas matérias-primas para curtir uma “fossa” deliciosa. Mas as amadas e a prole, em terra firme, sempre esperavam por amor e comida, ou algo que alegrasse a sopinha trivial das noites frias daquelas paragens. Imagino o camarada chegando borracho, carente, com frio e com fome, e encontra a mulher esperando por alegrias marítimas: pescadores, camarões, lulas, lagostas etc e o cara de mãos abanando, apesar de ser uma delicia beijar, amar alguém embriagado (o outro). Eu me desfazia em devaneios pelas tardes de sábado em que saia com a namorada para uma tarde de boteco, somente nesse dia ela bebia espirituosas, nos outros dias, suco de laranja. Mas ora vamos, ao menos ao sábado ela entornava umas três caipiroscas. Eu ficava mais feliz principalmente quando eram de maracujá. Eu me mantinha a beira da sobriedade para fruir com requintes indianos daquele momento. Acho que o ego solta a gravata, o cadarço do sapato, como um soldado se livra do borzeguim... Volto à receita, que só tenho o conhaque, me falta o brandy ou cognac, além, claro do corpo sabiamente desfalecido. Pois um dia o pescador resolveu alegrar a sopa que sempre o esperara com com uns restos de redes de camarões cozidos em alto mar – fritos – em azeite e brandy. ( tudo para conservar até chegar ao fogão ). Este é o método. As cabeças e as “pernas” (pereiópode)(cefalotórax) de camarão e tudo aquilo que sai junto com a carapaça são pontos de concentração do sabor do bicho, ademais impregnam o azeite com suas essências marinhas. O pescador com esse detalhe: comeu amou dormiu despertou melhor mais humano e mais senhor de mares e terras.

Comer isso é comer o mar, concentrado mar, é ter o mar a meter-se diante do nariz, e cometer um bisque é assenhorar-se dele – o mar e suas sereias, sem cera nos ouvidos - como quem arma uma rede entre dois coqueiros a beira mar e deixa-se embalar pela brisa.
Para tanto faço um refogado (mirepoix)de toucinho (picadinho), cebola picadinha, cenoura picadinha, um tiquinho de salsão picadinho, tomilho e louro. Quando estiver bem refogado cubro com água e uma colher de manteiga e cozinho até que a água se evapore. RESERVO.
Nota 1. Nossa água é clorada, fluorada fluoretada etc. Uma vez no inferno abrace o capeta e use água mineral.
Nota 2. não use bacon, se quiser substituir, use banha ou faça outra receita.

No Pão de Açúcar tem um camarão que se presta muito a esta receita, por barato. É um camarão cinza. Camarão de granja. Dou uma boa fritada, e os deixo esfriar. Separo cabeças e pernas e cascas e devolvo tudo à panela. Reservo a carne. A essas carapaças dou-lhes muito fogo e flambo com brandy (Domecq é o mais barato), mas não deixo todo o álcool se consumir, com a tampa tapo a panela e apago o fogo. Ai começa a festa: ponho tudo na panela (destapada), espinhas de peixe (cruas) de outras façanhas, vinho branco seco ( o chapinha branco seco é sequíssimo, ótimo), o mirepoix, uma xícara de arroz, sim arroz, água para completar a panela, alho poró, pimentão verde, algo de pimenta vermelha, sal e pimenta do reino branca. Cozinho. Cozinho. Quando o líquido reduziu pela metade, paro de cozinhar e coo. Coo e com o auxilio de uma colher dou uma espremidinha ( média pressão) na parte sólida acima na peneira, sempre cai um plus de suco de mar. O ideal era ter um coador chinês ( parece um chapéu de chinês, vietnamita colhendo arroz – imagem – significado\significante=signo) que tem os furinhos bem finos, mas em casa me viro com uma peneirinha do bazar chinês da Alvares Cabral. Antes disso cozinho mais um tiquinho o líquido obtido na operação anterior, para reduzir ao ponto de creme espesso, boto creme de leite e então faz: plóc ao subir a bolha. Está pronto o bisque ( interessante o plóc, pois é o processo geológico gerador daquelas bolhas que não escaparam à superfície da terra em tempos de lavas e o quartzo se formou lá dentro, são muito comuns em lojas de neo hippies; pedras semipreciosas, pena de pavão, tacape, berimbau etc). Passo pela peneirinha chinesa com o auxílio aristocrático de um minipimer. Depois é aquecer, verificar o ponto de sal, juntar os corpos cozidos dos camarões e enfeitar o prato com uma folha de salsinha. Se encontro umas ostras, coloco o bisque sobre a criatura.

Dietética.

Os especialistas em dietética e consortes, de direita ou esquerda se apresentam insistentemente com viés marcadamente fascista. Nos condenam à saúde através da triste e medíocre paisagem do peito de frango “grelhado” e a sinistra salada de alface com meia colher de óleo. Deixando ao paladar a triste função de espectador da sensaboria intrínseca da coisa alface. É o mesmo que transformar a alma, que temos entre as coxas, em simples aparelhos mijadores. Só fazem aumentar a frustração humana em troca de alguns anos de velhice “saudável”, se tudo for verdade. Mas não há como ser verdade, se partem de um ser tão abjeto como o frango, um resquício, uma pegada fossilizada de dinossauro domesticado e condenado a vida demente de comer e comer dias e noites, por uma quarentena, o que faz da sua vida, quaresma ou ramadã invertidos, e sua matéria é condenada a algo entre o plástico e o papelão cozido. Seu gosto e cheiro lembram à matéria que deveria eliminar por sua triste cloaca crescida, gorda e calejada – sobrecu (uropígio) - , posto que suas pernas perversamente não sustentam-lhe o peso. As asas definham. É isso que é o frango, um animal triste, que sequer bate as asas que se lhe atrofiam, aumentando-lhe a tristeza, que antes era ter um voo curtíssimo, um Santos Dumont que esborracha-se no plano como que de um pico se tratasse. Ora, voar! nem bater as asas consegue. Enfim o peito de frango é saudável. Essa gente sabe tanto do que dizem como os que vêm Datena entendem o que este diz. Digo Datena, onde cabe qualquer nome.
A saúde é coisa séria e a ANVISA deveria estar atenta à quantidade de produtos do tipo espessantes, colorantes, gomas, sabores artificiais, o sal, toda sorte de temperos “caseiros” carregados de (MSG) Glutamato monossódico – ajinomoto – presentes em todas as conservas e elaborações. Um exemplo é a goma Xantana, Guar etc que frequentam inclusivamente os inofensivos creme de leite e margarina. Para ter-se uma ideia, 2,5 g. destas gomas espessam 1 litro d´água. Elas estão presentes na maioria dos cremes de leite de caixinha, margarinas, salsichas, calabresas, “blanquets” lights de peru etc o que é no mínimo uma falsidade ideológica, podendo ainda servirem para o oposto do que se pretende e é prometido. Todos estes ingredientes, são autorizados para um consumo em pequena escala. Acontece porém, de estarem na maioria dos produtos industrializados, e por ex., em sucos tão espessos, que acabam que ser mais sólidos que a própria fruta, como o maracujá, caju etc. O descalabro está em uma manteiga que atende pelo nome de Mesa, pois a Mesa não derrete na frigideira nem a 200ºC. Então começa-se uma linda manhã com um delicioso café da manhã, com um suco de manga mais espesso que a baba do pé-de-pato, o leite de uma vaca que comeu todas as folhas de gelatina, quiabos, agar-agar, xantana, jatai etc que há no mercado – há leites que são creme-de-leite, e creme-de-leite que parecem massa corrida Metalatex - , besunta-se o pãoocodecadadia – mais vazio que um BBB – mais pretensiosamente cínico – no fundo chalaças de um bolo pesado de tapioca - que Juca Kfouri e Fausto Silva juntos de mãos dadas cantando ciranda\cirandinha\vamos todos cirandar...e pulando e completando a roda: Jô Soares, sob a mirada úrica, fiel, mendicante e compassiva de Diogo Mainard que é uma confeitura de morango, que esqueceram de adicionar pectina, mais conhecida como geleia.

Galinha d´Angola, Saqüé au faisandè.

Sou de esquerda e cozinheiro. Descobri meu culinarismo antes de ler o Manifesto Comunista. No primeiro ato culinarista foi o descortinar de minha impaciência com o menu-de-sempre. Metia noz moscada e pimenta do reino no feijão e o mundo me sabia melhor. Não demorei a chegar a Ideologia Alemã, 18 Brumário. E o mundo me sabia pior. Com a mesma velocidade ultrapassava a Cozinha de Ofélia e descobria Brillat-Savarin ( Fisiolofia do Gosto) “ … por meio de compensações justas, o ato de beber nos ministra, segundo as circunstâncias, prazeres extremamente vivos; aplacando a sede, quando muita, ou ao tomar, já saciado, qualquer bebida deliciosa, todo o aparelho papilar se põe a tilintar desde a ponta da língua até as profundezas do estomago” ( tradução livre) para devorar Florestan Fernandes, dele, vi palestras, fi-lo questões, que por vezes me envergonho havê-las feito. Júlio Chiavenato colaborou diretamente nesta formação, com uma análise critica à Geopolítica do Gal. Golbery . Hector Benoïtt desvirtuou-me com Heráclito: O porco se lava na lama. Wilson Giacon me esfregou Hobbes nas fuças: O homem é o lobo do homem. Foi época que meu esquerdismo fundamentado me ensinava que tanto fazia um ovo frito, quanto um strogonoff – tão caro era o “champignon em conserva” - . Posso dizer, e devo dizer que os livros de Marx, Chiavenato, Hobbes, Florestan, e outros eram mais caros que comer um Filet a Don Callogero na então Trattoria Zio Totó, rua Prof. Edna Rocha de Freitas, no Jardim Paulista. Aliás, foi o Magrão – Rômulo, filho do Don - enquanto passava a massa pelos cilindros - antes delas terem preferências “massiais” - do que seriam Fetuccini, que me abriu porta e janela de par em par da cozinha italiana, e meu primeiro amor foi a lasanha verde (espinafre) a quatro queijos. O gorgonzola me assombrou o paladar como 18 Brumário assombrou-me o pensamento. Com isso aprendi que cozinha era mais que poder aquisitivo, trata-se de imaginação e cultura. A imaginação requer Atenção. A atenção exige tempo, uma certa calma, uma forma de meditação e de observação insistente e positiva. Paralelamente a Cozinha requer tempo, uma certa calma e uma atenção evidente. Um dia conheci Dito, Benê, Benedito, que foi Chef do Hotel Premium em Campinas enquanto engolíamos um X-Tudo no carrinho de lanche defronte o hotel. Me falou de Antoine Carême, pâtissier o rei do açúcar com suas pièces montées , rei dos chefs , Escoffier – Le Guide Culinaire com milhares de receitas tais como Pêche Melba, Tornedó Rossini etc e o sonho do Benê na época: o pêmio Bocuse d´Or. Benê trabalhava muito nessa sua industria. Eu provei do seu sonho em duas oportunidades. Sua matéria primeira: a Galinha d´Angola – capote, saqué ( citada por Raul Seixas em Capim Guiné letra de Wilson Aragão: Suçuarana só fez perversidade \Pardal foi pra cidade\ Piruá minha saqüé \Qüé! Qüé!. - . Como dizia, a primeira era uma espécie de Capote ao molho pardo, variante do prato mineiro. Benê não se assustava com o prato, pensava em algo espantoso, que provocasse lágrimas estéticas. Além do que, havia as regras do Bocuse d´Or, o tempo. Na segunda fase não existia pré preparo, haveria de ser no forno e fogão na frente dos jurados. E a saqué tarda a ficar pronta. Não haveria tempo exequível à façanha. Depois confitou as coxas, os peitos, mas estas eu não tive a honra. Por fim meti minha colher de pau: Benê que tal: d´Angola au faisandè com falsas trufas! Disse-lhe. Benê disse: já sei! E fechou o sarcófago, mas antes disse: daqui um mês verás. O tempo voou. Quando nos encontramos novamente me convidou para provar o acepipe em dois dias – numa segunda creio pois só bebia muito às segundas - . Benê todo aquele tempo alimentara a galinha d´angola a milho, alho, água de rosas, mamão e cerveja. O álcool e o mamão são para amaciá-la, o milho alimentá-la e alho e a água de rosas para odorá-la disse-me. Benê partia duma premissa: trufas negras cheiravam a peidos d´alho suavizados com odor de rosa. Um cheiro a self-service com patrões chineses. Enfim havia matado a saqué, torcendo-lhe o pescoço, para que não perdesse humores, cheiros e sangue. A havia dependurado por dois dias dentro da geladeira a temperaturas dos 12 - 15ºC – deixara a porta entreaberta – afim de provocar o princípio de decomposição – faisandè - , mas de modo controlado. Conversamos que a saqué é melhor que o faisão, enquanto preparava a primeira prova: peito de d´angola selado em manteiga clarificada turbinada com azeite de oliva, flambada com brandy espanhol Fundador – era o most da época – à redução dos sucos adicionou umas folhas de tomilho, uma lasquinha de cogumelo seco porcini reidratado com água de rosas e os próprios miúdos da saqué, coou, reduziu e serviu com purê de cará cozido com sidra misturado a maçã verde.

PITÇALADA. pizza e salada.

Sempre uma boa pedida é a Pizza se fina e leve ou a Salada, aqui é sempre verão, por acaso e não só por isso. Um raiozinho de sol sempre vaza por entre as nuvens e sempre aquece. Ainda que assim não fosse é sempre bem vinda uma salada – mesmo que nem sempre me apeteça comer a paisagem - ou uma pizza. Eu junto as duas especialidades em uma, e isso se transforma numa pitsalada. Trata-se de uma leitura semiótica da salada com “croutons” ( só pra me recordar: a salada é um signo, com significado e significante). Os “croutons” são çubsstituídoz pela maça fininha e crocante da pitça.



Guimarães Rosa dizia que o cedilha se agarra com medo a linha e por isso ele escrevia dansa com “s” sendo também o esse todo sinuosidade. As saladas deveriam ser feitas por paisagistas e acabadas por cabeleireiros que dão sempre aquela afofada nos penteados afim de ganhar volume, ou gatos que também fazem o mesmo com as almofadas. rrrom miau!


A massa.
O minimo de fermento. 7gr por quilo. 1 colher de sopa de sal por quilo. Água bastante para que a massa fique lisinha e quando sovar não grudar na mão. Deixe-a descansar por 30mim. e então sove novamente e reparta em bolinhas, cada bolinha suficiente para uma massa de pizza fininha ( 65gr).
Então abra-a, estenda-a (1,5mm de espessura) com um rolo, serve também uma garrafa de vinho, vazia e sem rótulo. Leve-a ao forno. Pizza é transformação termodinâmica. A depender do calor a massa assumirá uma textura, de dura a crocante. A depender do tempo de: crua a queimada. O ideal é muito calor e pouco tempo. Se deixarmos a bolinha de massa repousar na geladeira, a ponto de esfriar bem, para depois abri-la, ficará ainda mais crocante. Vale para as bolhinhas da massa do pastel. Vale para a tempura. Uma vez assada a massa a recobriremos com a salada. Em lugar do molho uso um pesto genovês simplificado: alho, manjericão e azeite. Cubro metade da massa com o pesto. Somo uma camada fina de muçarela de búfala,tomates cerejas e por fim as folhas: alface americana, chicória roxa, juliana de cenoura etc A outra metade unto-a com pesto “rosso”: tomate seco, azeite e alho(batidos no liquidificador) cubro com um camada de presunto cru, cogumelos paris finamente laminados, acrescento mais azeite ao pesto e distribuo pelos cogumelos. .

saber e sabor. Ego au vin flambado com conhaque.

Penso que a grande receita de carnaval é a autofagia. Nisso alguém dirá que só come o outro aquele que sabe a si mesmo. Saber e sabor têm a mesma origem, latim vulgar. Antes scire e sapere e depois em quase todas as variantes do latim vulgar sapere. Assim tenho que saber o que sei, ou de outro modo sei o meu saber. Eu depois de tanto sei a frutas silvestres com piso de florestas, cogumelos e miscelânea de álcoois. Agora, para tanto, a alteridade. Eu me devoro pelo outro. É uma forma de consubstanciação, metempsicose e entre carnação. E nisso reside a carnavalidade. Como a cigarra que sai de si mesma, de dentro dela cigarra, uma vaginal cachoeira saindo entrando sendo natureza e a alegórica aranha que tece a sanha. Tenho que cozinhar o meu ego, para tanto uso fogo alto e panela de pressão por se tratar de um músculo enrijecido e calejado e dele desejo o bagaço, o tutano . Ao final do cozimento sempre flambo-o com um bom conhaque, para que dissipe de vez tudo que tem ele de acre. Assim cozido embrulho-o em filme plástico, guardo-o em lugar fresco e escuro fora do alcance das crianças, visto uma camisa listrada, tomo umas canas...

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BRIOCHE receita.

Maria Antonieta, Maria Antonieta. Era uma menina que casou com um menino e que teve como imenso azar a contemporaneidade de Danton, Robespierre, o panfletário Marat e Guillotin. Principalmente este. Diziam-na fútil. Fútil para mim é aquele que é útil aos próprios desejos, sem emparelhá-los com os dos outros. Bella frase maestro, diria Zafra el Cocinero de Jaén, pero hay que dormir, mañana haceis los croissants, enquanto andávamos borrachos por Venta Paso de chacina em chacina uma noite sem fim.(chacina em espanhol é embutidos e defumados de porco) Dizemque disse: comam Brioches. Se disse, ela era do tipo que perde o amigo mas não perde a piada. Fútil nesse caso é qualidade. Passou para a eternidade desnecessária, ( se desnecessária então fútil) com a cabeça separada dos ombros. Dizemque: brioche = {(brie + oche) onde (brie o queijo e oche um figo com a cara do brioche, primo significante mais moço e mais famoso)} {Laplace punha tudo na forma de equações, e seu sonho era por o universo(amor, ódio, poesia e José Sarney) dendro de única equação, tipo f(amor) = g(ódio) x 2.brioches²}.



O brioche de antes era isso: farinha, água, sal e brie. Não tente fazer, pois estragarás o Brie, compre um pão sueco. O de hoje pode ser farinha, água, sal, fermento, ovo, muito ovo, na verdade gemas de ovos e manteiga, muita manteiga e claro para levedar tudo isso o fermento não pode ser pouco. Eu não uso água, uso leite. Por se tratar de uma massa base, quer dizer serve a muitos fins, tanto podemos botar açúcar como não. É uma massa esquisita, passa uma noite na geladeira e daí funciona melhor. Faz-se uma bola e enche-se a forminha, faz-se um afundadinho, como se fosse uma craterazinha e enche-se-a com uma bolinha e assa-se a forno médio.



Aceto Balsâmico de chocolate.

Machado de Assis lá pelas tantas - creio que em “Música...” não! Ah sim “Cantiga de Esponsais”. Escrita para leitoras – diz: “Parece que há duas sortes de vocação, as que têm língua e as que não têm. As primeiras realizam-se; as últimas representam uma luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens”. Num primeiro momento me envergonho do que escrevo, tenho vontade de atirar seus volumes (Dele) no lixo, como se fossem olhos irônicos, cínicos mesmo a rirem-se de minhas industrias. Ora vamos, industrio para construir um canal com os pares. E este blog “Bistrô Rural” é uma dessas pontes ligando ninguém a nenhuns, por inacabada e imperfeita.
Fiz uma cirurgia e ainda não mastigo livremente, ontem nem podia falar “madagascar, madrugada” que doía, hoje já pude uma salada de frutas: mamão, abacate, uns mirtilos – congelados -, morangos e kiwi. Eu tinha guardado um bom pedaço de chocolate, mas só encontrei seu terço. Então me veio que ia colocar: limão, mel e chocolate (derretido). Troquei o limão por balsâmico e a coisa vingou.
Foi assim:
Reduzi algo de vinagre balsâmico ( eu usei um “Castelo”) a um terço e juntei uma colherada de mel ( a colher de mel é impossível de ser medida, sempre transborda) fora do fogo pus o que eu tinha de chocolate. 60 ou 70 g, e fui mexendo e aquecendo e derretendo e mexendo e coisa ficou lisa e brilhante. Balsâmico de chocolate. Da para jogar com o açúcar – ou + segundo lhe agrade. Teste numa carne. Eu, só depois de convalescer.