Penso que a grande receita de carnaval é a autofagia. Nisso alguém dirá que só come o outro aquele que sabe a si mesmo. Saber e sabor têm a mesma origem, latim vulgar. Antes scire e sapere e depois em quase todas as variantes do latim vulgar sapere. Assim tenho que saber o que sei, ou de outro modo sei o meu saber. Eu depois de tanto sei a frutas silvestres com piso de florestas, cogumelos e miscelânea de álcoois. Agora, para tanto, a alteridade. Eu me devoro pelo outro. É uma forma de consubstanciação, metempsicose e entre carnação. E nisso reside a carnavalidade. Como a cigarra que sai de si mesma, de dentro dela cigarra, uma vaginal cachoeira saindo entrando sendo natureza e a alegórica aranha que tece a sanha. Tenho que cozinhar o meu ego, para tanto uso fogo alto e panela de pressão por se tratar de um músculo enrijecido e calejado e dele desejo o bagaço, o tutano . Ao final do cozimento sempre flambo-o com um bom conhaque, para que dissipe de vez tudo que tem ele de acre. Assim cozido embrulho-o em filme plástico, guardo-o em lugar fresco e escuro fora do alcance das crianças, visto uma camisa listrada, tomo umas canas...
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