Na década de 80,
fazia sucesso em Campinas o restaurante Hirata. Tudo havia começado
na garagem da casa, foi ocupando a casa, aonde ainda residia o
proprietário do restaurante. Quando lá fui, jantei no quarto de
dormir, que ainda guardava marcas do filho menor. As portas do
armário embutido repletas de colantes de super-heróis e algo mais.
A coisa cresceu tanto que nos anos 90, o restaurante havia ocupado a
casa vizinha e ambos os quintais. Era um labirinto. Mesa dois do
quarto para a rua da casa da dona Antônia, rezava a comanda. Há que
se descontar exageros.
O carro chefe era a
salada de rúcula. A famosa salada acompanhava todos os pratos, do
filé ao lombo de porco. Todos tentavam em suas casas e nos
restaurantes reproduzir aquele sabor. Dizia-se que levava alho,
vinagre, sal e óleo de soja. Batia-se esta vinagrete em
liquidificador e se esborrifava sobre a rúcula, e nada! Mudava-se as
quantidades de cada ingrediente, mais sal, menos alho, mais vinagre,
menos óleo, mais alho, meno óleo enfim todas as combinações
possíveis, até que alguém se deu conta: ajinomoto. E a coisa se
espalhou pela cidade.
Nos anos 50, agora nos
EUA, houve uma 'febre' de restaurantes chineses. Que faziam uso de
unami em larga escala. Muitíssimos comensais alardearam reações
derivadas do realçante de sabor. O governo estadunidense se
interessou pelo problema, via seu poderoso órgão de saúde, FDA,
que pouco pode diante do poderio que a industria alimentícia,
bebidas incluída, tinha e se multiplicou desde então, mas o FDA
botou a substância sob vigilância, para pesquisa aprofundada. É
certo que o glutamato monossódico está presente em todos os
refrigerantes, principalmente os gasosos. É ainda mais certo que
além de potencializar os sabores, o unami aumenta a voracidade em
40%, é o que dizem os cientistas de Harvard e mundo afora. Sim, o
glutamato é, sensivelmente, um 'potencializador de sabor'. Isso nada
mais quer dizer quê, é uma substância que se ingere - cúmulo da
falta de razão – simplesmente para mais se consumir daquilo que se
está consumindo. O que me parece só per esse motivo, na situação
atual de suprema obesidade, sua utilização deveria ser como mínimo
questionada; porque a grosso modo a coisa se reduz a: comer; comer;
comer; comer até a obesidade.
Pesquisadores, em
âmbito mundial, independentes têm obtido dados estarrecedores sobre
este assunto, o E-621 (glutamato monossódico) mas todos sabemos das
estratégias das grandes industrias, basta se lembrar do tabaco,
aonde o resultado é uma das espécies de irracionalidades mais
grotescas que consigo ver. Dizem que o tabaco mata, entretanto sua
fabricação ainda é legal e permitidíssima. Esta frase, se postada
em status de facebook, seria digna de infinitos 'k', se ao menos a
compreendêssemos em sua profundidade. A indústria, qualquer que
seja, sempre exercerá em defesa de seus interesses tudo que tiver ao
seu alcance como: relações privilegiadas com os organismos
reguladores, centros de pesquisas próprios, estudos externos
patrocinados, investigadores contratados – com a finalidade de
avalizarem – publicidade, grupos de pressão política... tudo para
semear dúvidas sobre o real alcance dos efeitos danosos de seus
produtos a saúde pública.
Por tudo dito acima,
nada me faz estranhar que o unami, permita-me o trocadilho, é
unanimidade. O comensal disse que o frango estava sem sabor, o
cozinheiro preguiçoso deu-lhe uma pitada generosa de glutamato, o
que satisfez o freguês. E-621 está em tudo e em toda parte, é o
verdadeiro Deus. Em tudo que a garotada adora, e cada vez mais os
adultos adotaram. Está na batata frita de saquinho, nos demais
saquinhos sejam do que sejam têm ajinomoto, na coca-cola, na fanta,
nos refrigerantes gaseificados ou não, no inocente suco de açaí,
na picanha do seu restaurante, na comida 'caseira' self-service do
dia a dia, no cupim de um restaurante pé sujo em Araçatuba, ex pé
sujo depois 'de ir' a Ana Maria Braga, que reclamou ao vivo, e que
não diria o nome comercial do produto, porque a industria não quis
' contribuir' para aquela emissão que atinge nada mais nada menos
que todos os brasileiros, esta é a postura da grande cozinheira,
nenhuma crítica quanto a 'no mínimo' a uma massificação do uso de
tal produto, fornicando a vida do nosso saboroso, por si só
bastante, cupim; mas ele, o unami, já estava na massa de um
restaurante chic do Boulevard, no filé a parmegiana de cada domingo,
e por fim fui encontrá-lo debaixo de um flamboaiã em flor, ao lado
de uma igrejinha, numa pracinha perdida no tempo da esquecida Jurucê.