Minha avó, Vicentina,
a vi fazer massas, mais precisamente fitas largas – um dedo de
largura - por um milimetro de espessura – será isso?
Ou pode ser um e meio - fitas largas e rústicas, massa aberta no
rolo, no muque, cortada sobre a mesa à faca. Primeiro ela abria uma
folha larga de massa, depois 'enfarinhava' a mesa com fubá, pousava
ai a massa, ' enfarinhava' agora a face de cima da massa com fubá,
então a enrolava, justo rocambole sem recheio, e então cortava as
fitas, fettuccines largos ou tagliatelles, como queiramos; para
agradar um que outro neto manhoso fazia barquinhas, estrelinhas,
patinhos, enfim figurinhas que no final todos queriam devorar. Eramos
uma família de plantadores de tomate e horta baixa – berinjela,
pimentões, giló, quiabos entre outras – e lembro-me do molho que
comíamos até sair pelo 'zóio': berinjela frita em cubinhos de um
dedo de arestas - será?
com tomate e saudades.
Naqueles
dias em que deveria fazer alguma coisa em que não gosto, e não há
tantas assim, tenho me deparado a aprender a fazer massas.
Massaterapia.
Ovos
inteiros e sal a gosto no liquidificador, bato até espumar e misturo
isso à farinha. A quantidade de ovos deve, pelo que tenho percebido,
ser tal que a massa fique mesmo dura. É mais difícil de passá-la
pelos cilindros, mas resulta mais gostosuda. Fica com textura lisa e
o tal ponto de 'al dente' na hora do cozimento, o tenho conseguido
com mais tranquilidade.
Tenho usado misturas de farinha de sêmola e
farinha dita especial. Uma – a especial – dá-lhe elasticidade, a
outra um ponto de rugosidade, atrito, onde o molho se adere, e de
trincamento, mais precisamente o cozimento não a abranda tanto.
Quando fiz somente com farinha especial, quando cozida a massa fica
escorregadia, mais se parece a uma enguia, para não fazer pior
analogia. O molho fica de um lado e a massa fica de outro, não se
combinam, não se casam.
Outro
dia coloquei junto aos ovos um punhado de cogumelos secos –
reidratados – chilenos, o que resultou numa massa bonita de se ver,
com pontinhos de cogumelos e um tom caramelado, creme escuro, jambo,
amulatado. Essa massa a cometi com tomates secos caseiros, que
sequei ao sol em dois dias. Junto com os linguines havia feito uns
barquinhas recheados com – redundância – cogumelos, tomates
secos e presunto cru finamente picados e amassados até se
amalgamarem. Mas a Joana chegou, perguntou, respondi: Massa recheada
e massa seca, sem despregar os olhos do diário virtual – caro
diário, facebook -, ela perguntou, respondi que sim que já havia
comido. E não sobrou um para a foto. Mas vou repetir. Já sem os
tomates secos ao sol, pois agora começa a mudar o tempo e a umidade
e a chuva não permitem tal industria. Será feito no forno. É a
mesma diferença que há entre a máquina de escrever e o computador,
o cd e o lp! Não me importei muito, porque eram produto de
aprendizagem, ainda não têm a textura e não sei o quê mais
faltava, mas faltava algo, isto: aparência.
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