O acepipe.
A geada resistia aos primeiros raios de sol que pelas frestas dos pinheiros
iluminavam as sombras de onde deveriam aparecer os fungos. Cada um escolheu seu caminho. Eu a mote de norte tangenciei o curso de um arroio de águas cristalinas, que descia rumo ao Segre, gelado e fumarento. Estaquei diante de um cogumelo. Admirado, pesquisado e por fim, colhido. Com uma faca de cabo longo e lâmina curta, cortei o talo acima dos esporos, regra a ser cumprida nessa micologia. Um passo a frente e toda uma família que muito reduziu o tamanho do primeiro. Mas, guardei o primeiro
Continuei subindo por uma escarpa que dava em um grotão, que dava para mais além e fui subindo nessa busca infinita, e quando consegui chegar ao topo, um algo mais ensolarado, dei de frente com um Amanita vermelho com pintinhas brancas. Pesquisei. Alucinógeno. Psilocibina. Dei uma mordida. Achei-me sentado à beira do arroio e contávamos um ao outro o deslumbramento recíproco que sentíamos sua dele transparência indiscutível seu barulhinho ao passar o pequeno estreito formado por grandes calhaus em seu pequeno leito onde pousa o meu retrato colado em seus gneisses de fundo e ele o rio dizia de minha imobilidade, minha coisa nenhuma de alarme de nele se me ver refletir meu saber de que não sendo ele o mesmo e nem mesmo eu sendo no que me transformo sou ainda confiável sem me achar infértil por não ter peixinhos vermelhos a subir por mim meu não lhe tocar para me ter mesmo que o abuso de fulgor que lhe reflito que eu começo a pensar peixes feixes de luz e a ser eu rio eu peixes brilho o que vê e o visto sendo o sol refletido a fonte do calor que me queima e eu a banhar-me em mim beber-me...
Então você também se ausenta?
A todo pulmão aqui.
Recusas?
Qual recusa?
Que somos iguais. E que tampouco esteja inteiramente aqui, seguindo a tal de essência do ser.
Vale! Tenho momentos de fuga à inglesa, e você não é assim?
Sou. Mas penso que isso tudo faz o essencial. Sem projetar-me no futuro ainda que o pretenda e o projete.
Eu não disse que fugia rumo ao futuro.
Eu sei. É que parti do seu -fuga à inglesa- e acabei por complicar, o fato é que, se estou em você é porque eu quero estar em você.
Aqui estamos nós!
Desde Vasco da Gama!
Desde antes!
Andando em círculos!
Desde o inverno da Alexandria!
Se aqui estamos, pra onde iremos?
Que diferença faz inventarmos um dialeto?
Andar em volta de nós mesmos?
Eu quero uma festa sem fim.
Continuaremos aqui?
Vamos na busca da virgindade do mundo!
Sem sabedoria?
Só curiosidade!
Como?
Os sábios estão velhos. E nós seus legados.
Sim, mas, e o mínimo futuro?
O futuro mínimo que vira o máximo?
Nada se esgota em nós, ou fora de nós.
Então que tal a surpresa que enriquece!
Calle Luna.
La rambla.
Puerta de Alcalá.
O buraco negro.
O sol.
O centro.
O cerne.
O sal
Conto Alucinação.
alucinação.
Me apresento?
- Pois, Dino Sauro. E digo: Desde que fechei minha videolocadora ganho a vida descarregando e pirateando filmes e shows de música sertaneja universitária para vender pela cidade. Meu amigo Artur Dias Ciénaga vende muito lá na baixada, perto do mercadão. Artur se especializou em vender música com flauta andina… acho que pelo sotaque. Vou ao que interessa, acabo de passar por uma experiência horrível no banheiro.
Estava só experimentando uma coca que me vendeu meu dealer Aécio el Rey de la Falorpa. Notei um forte cheiro de éter e giz, mais giz que éter. Esse canalha temperou com tanto geso que por pouco não se forma uma rolha no nariz. Bom pelo menos posso falar aos neófitos que sou professor e lousa e giz. Guardei o espelhinho com o pino no armarinho do lavabo, foi então que ouvi um ruído estranho vindo de algum lugar dali de dentro.
Fiquei atento ao ralo da ducha, ao ralinho da pia do lavabo, olhei na água parada do vaso sanitário… então o vi, como um flash. Um olho que me observava desde o interior do ralo da ducha.
Soltei um grito, quase quebro o box, bati a porta do banheiro e meu coração batia a ponto de explodir. “ Será que foi o giz do Aécio? - pensei - Impossível, estava tão batizada que não provocaria alucinações nem num terra planista.”
Já passou uma hora. Decido pegar um cabo de vassoura e ir ao banheiro. O primeiro que vejo é a mangueirinha da ducha sobre o tapete de borracha. De repente se agita como uma serpente e umas antenas cumpridas começam a sair pela água do vaso sanitário. As antenas arrastam o resto da coisa. Um tentáculo com uma boca de ventosa horrível com dentes de lampreia se inclinam na minha direção como se estivesse se preparando para me atacar. Mais antenas aparecem por todos os lados, saem da ducha, do ralo, da pia do lavabo e até globo da luz. Começo a dar pauladas a esmo, jogo o cesto do lixo, a toalha, tudo que está a meu alcance. O tentáculo vira uma massa de gel, shampoo, antenas e bocas… dou um pulo para trás, bato a porta atrás de mim. Ainda tentava recompor meu folego e soa a campainha. Pelo olho mágico vejo dois policiais.
- Policia – disse um – temos provas de que vende cds piratas. Delito contra a propriedade intelectual.
“ Taquepariu, aquele civil vadio atrás duns troco ,miúdos apertou o Artur e ele bateu com sua imensa língua nos dentes daquela bocarra” - penso - mas eles voltam à carga
- Também sabemos que possui drogas. Delito de tráfico e associação criminosa.
“ Porra, até o Aécinho? Estou rodeado de dedos-duros!”
- Vocês tem ordem judicial, digo ao policial que está mais dentro do que fora de casa.
- Claro que temos – e completa com um sorriso melifluo - : Posso usar o banheiro?
- Ah! Esse truque é velho! Eu vi umas cem vezes no C.S.I LA - dizia e já lembrava do pino e o espelho no armarinho - e lá do fundo de mim surge o instinto de sobrevivência.:
- Pelo corredor segunda porta a direita.
Com um obrigado inaudível ele avança pelo corredor e entra no banheiro. O outro e eu ficamos frente a frente, ele na escada eu na soleira. Imediatamente ouvimos os gritos, barulhos agudos de vidros quebrando, ruido de … mastigação com boca aberta?
- Que que tá acontecendo? - grita o policial – entrando, me empurrado, tirando a pistola do coldre fazendo mira como se fora Horácio.
Abre a porta do banheiro com um coice. Ouço um disparo. Mais gritos, logo silêncio.
Recolho tudo que cabe no meu fusca. Creio que é um bom momento para visitar o casal de amigos Luiz e Dimea que foram criar cabras para fazer queijo numa cabana na finca Juncal num povoado afastado no Uruguai.
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