Quando
morava numa república - na verdade: A República – de frente à
praça Sete, justo onde hoje é o Boi-Bom. Naquele antão havia o
Gato e Sapato, o Rato e Chinelo, Cuba Libre, Noite Sem 100 Pressa,
etc. Minha mãe eventualmente nos brindava com algum quitute. Certa
feita foi uma baciada de mandioca cozida. Uma das meninas, que não
quero recordar, com seus carnudos lábios e seus grandes olhos negros
declarou toda sua alegria e incontinente se apoderou duma parte e
nela sapecou Nescau. Como era um 'bocó de mola', agi como tal: me
espantei! Aquilo - à época - fez uma revolução na minha crença
culinária. Hoje sei que as matérias-primas não sabem se são
primeiras matérias para pratos doces ou salgados, o hábito é
nosso. O mesmo se dá com o abacate, que tardei uma eternidade para
descobrir sua guacamolice. O amendoim é outro desses seres no mínimo
ambíguo, que tanto se presta ao doce como ao salgado. Para mim
abacate com amendoim são seres quânticos. Duais – sempre quis
escrever duais – que em conjunto se amalgamam à perfeição. Além
de dar espaço ao exercício pueril de misturar coisas com o garfo,
ao sabor da ilusão.
2 comentários:
Bons tempos, A República! (Será mesmo? De verdade, nem sei se foram melhores ou piores que outros tempos... acho que todo tempo tem seu bem e seu mal e a distância é que nos faz ver a delícia e esquecer a dor, felizmente)
Fiquei curiosa pra saber quem jogou Nescau na mandioca. Eu não fui, pois jogaria açúcar. E só. (Eu acho).
Eram 5 repúblicas e ao mesmo tempo res pública, coisa pública. Claro que não quero dizer Oh! que tempo, que vida! Não se trata disso, afinal havia até uma certa desunião (uma indiferença sem eloquência, até mesmo "elegante" entre nós), mas era um lugar, e talvez para mim aconteceram coisas, disse coisas, vi coisas, muitas delas inclusive fora da República, mas no tempo da República, da cidade. Coisas que se passaram com outras pessoas, como o Salvatore, como o enhoque da Ruth, e tudo diante de uma praça, perto dos butecos, passava por ali todo tipo de gente, até bandido vinha traficar. Dori, o artesão, vinha tomar café, enfim me sentia bem e mal no equilibrio que me será sempre particular em qualquer lugar, aqui e agora igual. Inclusive em vez de uma data para um Nescau com Mandioca cozida, um local. A República. Talvez a Elaine, ou a Jaqueline, sem certeza.
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