O ano de 2009 me foi
particularmente gostoso, vivi dois verões. O primeiro deles foi num
Poble, palavra que designa povoado, vila, rincão, aos pés dos
Pirineus catalães. Poderia dizer espanhóis, mas como se me dessem o
direito de escolher uma segunda pátria, escolheria a Catalunha, por
uma série de motivos, e um deles pode que seja o de ela não ser
mais que uma nação, com um desejo imenso de ser Estado. Pois à
Tornabous, o Poble, como na maioria dos povoados de lá, há uma
piscina pública, que ademais fica fechada todo o tempo, exceto no
verão.
Nas dependências do complexo, há uma cantina, que a cada
ano tem um 'dono', um tocador. Até me candidatei, perdi, para duas
moçoilas, universitárias e bonitas, qualidades que já bastariam
para transformar aquele verão, no verão. O juri foi bastante
influenciado por um fato culinário, que muitos dos concorrentes não
levaram em consideração, eu particularmente por desconhecê-lo: a
mãe de Nuria era e é uma quituteira de primeira grandeza, e
portanto subjazia na proposta das meninas, os quitutes de la Carme.
Não levo em conta o voto que com certeza o pai da outra, o médico
do povoado, Joan, membro do partido mais nacionalista do lugar o CiU,
despejou e outros que tenha catalisado.
Todavia por mais
insinuosas e cínicas que sejam minhas palavras, as meninas
transformariam aquele, num dos verões mais interessantes que passei
por lá. Afora o sucesso das moças, foi estrepitoso o acolhimento
da Croqueta de Bacallà. Croquete de Bacalhau. La Carme não
conseguiu dar abasto a demanda. Quanto mais aumentava a produção,
mais gerava consumo. Uma sutileza gastronômica.
Bacalhau desfiado,
finamente picado. Passado por um refogado de alho com azeite.
Misturado a um bechamel espesso, condimentados com um tiquinho de
noz moscada, uma semente de pimenta Cayena junto com o azeite e o
alho. Essa massa cremosa é levada a geladeira até que tenha um
ponto de endurecimento que possibilite se trabalhar com ela, seja,
dar forma as croquetes, então se passa por farinha de rosca,
primeiro, depois ovos com leite, outra vez em farinha de rosca para
finalmente serem fritos.
Produzi alguma alteração, ao botar no refogado um pimentão vermelho picadinho, umas azeitonas verdes e um tico de salsinha. Nada que rarefizesse sua leveza. Manteve-se um toque picante de fundo, e a qualidade de nenúfar aportada pela noz moscada. Ficou assim uma casquinha crocante que explode na boca, pois o bechamel quando volta a ser aquecido no momento da fritura ganha novamente sua textura de molho.
Um comentário:
Que delícia!!!
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