A sorte das nações depende do modo que
se alimentam
. Brillat-Savarim .
A cebola é
Kierkegaardiana, como a alcachofra, um ser em várias camadas, que ao ser desvelado
capa por capa, sempre nos mostra menos, até o próprio lugar
nenhum, onde a profundidade é sinônimo de vacuidade, nada. Tenho um
amigo que não lhe gosta a cebola, repete isso a cada encontro
gastro enólico. Um dia me cansei dizendo: quem é você para não
gostar da cebola, ela é anterior a seu pobre ego, ela sim é quem pode gostar ou não de ti.
Há uma cena em Brazil O Filme, em que o protagonista vê o amigo sumir em meio um
redemoinho de folhas de jornais, e ele no intento de localizá-lo, naquele
embrulho, separa desesperadamente folha por folha até chegar no mais
absoluto nada.
A cebola pode ter seu
ponto de partida na Ásia – Afeganistão - , passou pela Pérsia,
Africa.. andou mundo. Faz chorar por exalar - ao ser cortada –
ácido sulfínico que é volátil e instável, e o gás produto desta
instabilidade em contato com a água dos olhos produz ácido
sulfúrico, que é irritante, então choramos para diluir o ácido.
Enfim a cebola é controversa.
Encontramos alguma
variedade da allium cepa por aqui, menos do que se poderia. Eu
gosto muito da cebola nacional para a salada. Tomate e cebola, azeite
e sal. A cebola nacional é aquela mais oblonga, digo aquela, pois a
maioria é produzida por aqui. Como dizia: oblonga e a sua camada
mais externa nunca se seca por igual, não sabe envelhecer, como à Argentina. É excelente para a salada, por ser mais adocicada.
Quando recém-colhida é mais tenra, é o momento ideal para
desfrutar de todas suas qualidades, mas se pretender algum
preciosismo de textura, vá a parte mais interna do bulbo. Como o
caso é salada de cebola, esta merece um corte especial. Sempre a
corto na longitude e em quatro, desmancho-a o menos possível. Uso
uma flor de sal, sal marinho etc. Azeite - tenho um que se acaba –
de azeitonas alberquinas, sua acidez muito baixa e a pouca força, em sabor de azeitona, é ideal para apreciar o vigor dessa delicadeza, claro, um pouco nervosa, cheia de arestas, mas como todo vilão, a cebola tem seu ponto de doçura.
A cebola roxa é
globosa e é algo mais picante e menos doce que a cebola branca
nacional. É uma alternativa para saladas que carecem um pouco de
cor. É fantástica para refogados e quando se quer ganhar tonalidade
para o molho final. Ao ser refogada perde sua cor. Uma maneira
deliciosa de perpetrá-la é assada e depois cortada em lágrimas.
Outa possibilidade é
a cebola globosa e dourada, que alguns dizem: argentina. Tango puro.
Altas concentrações de sulfínico. Eu não choro, por usar lentes
de contato, creio. Gosto dela para fazer refogados. Se presta muito
para o trabalho de cortar em cubinhos, sua formação não se desfaz
facilmente, permitindo cortes mais amiudados. Coisa que se poderia
conseguir com um ralador, mas que desde já se diga, não é a mesma
coisa. Ao ralar danifica-se completamente suas células e fazendo-a
verter mais liquido e por conseguinte, mais gás, fazendo mais chorar, e
pouco se prestando ao refogado, que vira uma papa.
Sua acidez, muito
ajuda no cozimento de outros alimentos – amolece - . É um
ingrediente fácil nos ceviches por esta razão, cozinhar o peixe, para cozinhar polvo, lula, feijoada, carnes duras em geral, particularmente, rabada, vaca atolada ( costela)
Curiosidades de Cortes.
Pode-se cortar na
forma de lágrimas.
Em cubinhos mui
pequenos, são chamados brunoises.
Em cubos um pouco
maiores, são chamados mirepoix ( note que aqui o nome inicialmente é
de um conjunto de ingredientes – base para cozidos em geral - que
é formado por cebola, cenoura, aipo, toucinho etc, também se presta
a dar nome ao corte.)
Em tirinhas do sentido
longitudinal, são chamadas: a juliene, a juliana.
Ou ainda em rodelas
grosseiras, grossas, finas e finíssimas.
O tamanho do corte é
determinado pelo uso subsequente, tem finalidade. O brunoise tende a
desaparecer dentro da preparação do prato, enquanto o mirepoix
tanto pode permanecer visível – na sopa – como ser coado,
apartado do que se tem de fato interesse o caldo, os sucos.
Refogado.
Existem tantos
refogados quantos podem imaginar uma pessoa; que imagina mais coisas
que as pobres coisas que existem. Eu já perpetrei um refogado por
duas horas e trinta minutos. Tudo para fazer uma paella. Valeu a
pena.
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