Frutos do mar. Cartas a André Berazotti, Chef de cozinha.


André, acho difícil um cozinha – restaurante – expressar a cozinha espanhola, sem cair no que foi transformada no Brasil a cozinha italiana: uma massaroca, um grude – basta ver o que é a paella ( basicamente de frutos do mar) feita por aqui, uma exuberância, um volume, o mais, sem sabor. Nisso temos alguns problemas. O paladar brasileiro (cultural) e aqui falo do paladar de quem frequenta restaurantes, não da massa ignara, mas mesmo esse público desconhece a simplicidade de um camarão fresco, seu ponto de cocção etc. O mais das vezes têm que ser cozidos até virarem isopor, por estarem congelados a longo tempo. O congelamento não é pecado, pecado é como se congela por aqui, com água e outros aditivos que estouram toda a textura da carne do bicho, isso com respeito ao camarão, aos mexilhões, às lulas, aos polvinhos miseráveis e aos peixes em geral, de rio ou de mar. Nesse quesito o grande Idalvos ( e o respeito muito), trocou tudo pela quantidade e tudo ficou em ordem. Como ir a um restaurante é um 'evento' para lá de especial, resulta que o comensal deseja sempre se fartar das iguarias. Salvadas todas as exceções, neste campo 'marinho' temos muito pouco que pode ter esse adjetivo: iguaria.
A Paella. A paella pode ser consumida em qualquer boteco e em toda a Espanha, principalmente nos menus diários, que é a solução encontrada pelos “restauranters” espanhóis para a hora do almoço comercial. Esse menu diário em geral se começa por uma salada. Seguido de uma massa ou um arroz – paella para eles é arroz com gosto – no caso a paella é servida às quintas e sábados. Como segundo prato, antes do principal, que sempre será uma carne, o menu se completa com a sobremesa. Esta paella de menu diário é a mais digna de representar uma verdadeira paella, que deve ser entendida 'sabida' em Valência, nas suas variadas facetas, de verduras, de frutos do mar, mistas etc feitas em público. Como disse em Valência, mas encontrada por toda parte. Fuja das paellas de pontos turísticos, pois já se trata de uma aberração, em geral cometida por cozinheiros estrangeiros, com o propósito meramente comercial, que tem seu valor, mas não é do que estou tratando.
O polvo da feira. Pulpo a la feria. Esse polvo é um prato que se restringe à Galícia, La Coruña. Polvo cozido: serve-se seus tentáculos ( ainda com sua pele – essencial –) cortados em rodelinhas, condimentado com um pimentão doce e picante em pó e sal. Pode aparecer com um molho desse pimentão em abundante azeite avermelhado. Se precisar da técnica para cozinhá-lo posso passar.
Aliás deve ser agora em agosto a grande festa do polvo em Orense – o Original – mas como tudo ele estará por toda Espanha, ora bom ora nem tanto.
Galícia é a maior e melhor produtora de frutos do mar da Espanha. Ainda que os do mediterrâneo, talvez pelo iodo, tenham sabores bastante diferenciados.
Atente para a Sépia. Um tipo de Lula, Calamar. A sépia tem seu tubo e tentáculos mais grossos e fica maravilhosa, quando mostrada para a chapa ou frigideira e servida com uns dentes de alho picados misturados com salsinha finissimamente picados e azeite.
Atente para os Pés de Cabra. Caracóis do Mar etc.
Atente para um peixe que se chama Rodoballo, ou Rodovallo segundo o lugar.
Pode ser que se consiga substitui-los. Sempre se perderá muito, se o que se quer é fazer uma cozinha espanhola. O robalo, por aqui, é fantástico e não encontra tantos admiradores (cultural).

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