Rabada ao vinho com agrião.



Os franceses quando dizem au vin, querem dizer que a coisa vá saber a vinho, pois o vinho não é um ingrediente, sim um condimento. Mas um dia, de festa, fui ao Buçaco e lá desfrutei de uma Chanfana. A Chanfana é cometida com cabra velha, dizem que os franceses ao chegarem à região de Penacova, na Beira Litoral, saqueavam tudo que viam pela frente, nada de novo, aos portugueses restava a cabra velha e o vinho tinto frutado, pois os franceses envenenavam as águas. Pois a Chanfana é a cabra velha, aos pedaços, pois, cozinhada, com alho, cebola, um cravinho, piripiri, colorau e vinho. A diferença aqui, é que o vinho é todo o líquido em que se coze a cabra, fica mais caro o vinho que a cabra. Mas a recompensa é certa. Repeti e não me cansei de repetir esse prato. A combinação dos olores do rei do chiqueiro com o vinho, produz um terceiro que escapa à razão enciclopédica.








Fiz o mesmo com o rabo do boi, ou vaca, quem sabe? Nada de novo. Somente um sabor que me escapa, intangível.
O primeiro a fazer é dar uma dourada, em azeite se possível, nos troços de rabo, sem mais. Reserva-se.

Depois a trabalheira que dá o passatempo: coo o azeite, livrando-o dos resíduos sólidos por vezes já queimadinhos. Não uso todo a gordura, já não é mais azeite, é azeite mais a gordura que há no rabo. Enfim uso uma parte, note, na mesma panela, qual fritei os troços de rabo. Então estou nisso: devolvo à panela uma parte da gordura, graxa, e frito uma cebolas roxas. O que acontece? Acontece que toda aquela casquinha amarronzada que impregna o fundo e as laterais da panela é dissolvida pelos ácidos da cebola. Sabor. Essência. Essencial. Sigo com a coisa assim: boto uns dentes de alho, e de seguida um tomate picado, um pimentão vermelho. Quando tenho um bom refogado boto os pedaços de rabo de vaca. Cubro com vinho tinto seco. Abaixo a chama. Vigio. Dou mais vinho, se necessário, sempre é. Quando está quase no ponto de cozimento que desejo, seja, que a carnes se despegue do osso, sem que se utilize tantos joules. Deixo esfriar. Se possível na geladeira. Para que? Para que por cima se coagule toda a gordura da coisa, que é muita. Coloco numa fonte mais alta que larga. E quando a gordura está coagulada, a retiro mecanicamente com a colher. Então volto a cozinhar normalmente, até que todo o líquido se reduza à quantidade e textura que me interessa. Ou seja: Pegajosa. Sirvo com agrião.


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