Comida de boteco: Jabaculê. Escondidinho de jabá.





… vi quando cheguei as moças de lá.
Cozinhando uns inhames com os óios de arrevirá.
Buzanfã de flor, chulapa de mel,
a covanca soprando um sussurro descido do céu.
… pedindo pro inhame estala.
Jabaculê! Virge. Espetacular. Assunto assim às veis é mió calar....

... pra ser sem vergonha, basta ser descente...
Aldir Blanc e João Bosco. Letra e Música: Foi-se o que era doce.




a propos: buzanfã vem de beaux-enfants – lindas crianças - filhos de casamento anterior ao atual.
Muito embora seu significante soe como encontro escorregadio, macio, quente e um desaparecimento em calor úmido. Um apalpamento localizado. Um deus-me-acuda.

Jabá é carne-seca. É nordeste. Mandioca é indígena. Autóctone. Escondido é melhor e não tem discussão. Na calada da noite. Pé ante pé. Pela fresta. Porque o sexo é o discurso mais rarefeito de liberdade, e por óbvio, de verdade. Há quem prefira o sensual ao erótico. Há quem relacione o erótico à pornografia, fazendo desta uma catedral do mau gosto. Eu vou fazer a genealogia barata do escondidinho: a mandioca é barata e carne é cara. Pronto. Tá do jeito que todo mundo gosta de explicar o aparecimento das comidas ancestrais. Não vendo o casamento dos carboidratos com as proteínas.

A mandioca é um mito tupi. Assim não foi criada por Deus. Muito brevemente cito Câmara Cascudo: a filha branca de uma índia Tupi, morreu depois de um ano de vida, quando muito precocemente, falava e andava. Mani foi enterrada dentro de casa. Foi regada segundo princípios, não meros rituais, brotou a planta e foi dela os frutos de que se alimentaram os pássaros e estes com isso se “embriagavam”. Por fim a terra rachou-se pelo crescimento de Mani. Os índios comeram o tubérculo, e vendo que isso era bom: mandaram vir do interior do Pernambuco mantas de jabá, pra rechear a Mani, que era escassa. É uma lei do capitalismo: a escassez. Nada dá ou dará para todos, se todos quiserem ao mesmo tempo. É o medo, o pesadelo dos banqueiros, - há um belíssimo filme, com James Stewart, onde este fenômeno ocorre – todos correndo ao banco para reaver seus depósitos.

A mandioca esta bem escondida no pão de queijo. E foi pensando nisso que depois de sua cocção, que fiz com a água da segunda escaldada que dei ao jabá, Retirei aquele fio mais duro que a tuberosa tem no centro, amassei-a com um garfo, ainda quente (ela), dei-lhe um pouco de azeite que ela absorveu, enquanto queimava as mãos a sová-la. Aparentemente a massa absorve muito óleo, em contrapartida oferece uma airosidade intrigante. É possível que se consiga um pão de queijo direto da mandioca.
Carne-seca desfiada. Forrei o fundo da frigideira com uma parte da massa. Recheie-a. Cobri-o com
o restante da massa airosa de mandioca. Como tudo está cozido. Tudo está morno. O fogo é para dar uma crosta crocante. E foi o que aconteceu. Além de uma pequena confirmação que pude verificar. A massa cresce. Como pão de queijo. Foi-se o que era doce. Pedro gargarejo, com a mão no manjar, preparava o caldinho para a noiva gargarejar.  

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