Rodizio Vanguardista.

Churrascaria em 2064.






                              "Um dia, num restaurante fora do espaço tempo, me serviram o amor como dobradinha fria. Fernando Pessoa.

    Primavera de 2064. Ricardo, Serjão e Mané se dirigem de carro para O Rodizio Vanguardista. Conseguiram uma reserva porque Serjão conhece o maître, já que a churrascaria é um dos locais mais extraordinários da história da restauração da Alta-Mojiana.
    - Usam animais desenhados geneticamente, os informa Ricardo – Alguns, incluso, trabalham como garções! Acrescenta.
    Quando chegam a churrascaria já está cheia. Conversas, cheiros e especiarias trazidas de fora do sistema solar. As mesas estão distribuídas em um amplo círculo ao redor de uma estatua em tamanho natural de Genoveva, a primeira vaca impressa, no ano de 2047.
    Um garçom se acerca.
    - Querem ver o Cardápio? Ou desejam o prato carne do dia?
    - Excelente! Disse Serjão, queremos carne, somou. De repente os três emudecem de assombro ao ver que um cordeiro vem à mesa com gentil sorriso ruminante.
    - Bem vindos! Os saúda com voz aguda. Sou o cordeiro Gabriel, não confunda com Gabriel Cordeiro, e ria como se fosse uma hiena, da própria piada e acrescentou: venho adoçar o vosso repasto. Tornou a rir. “Nenhum cordeiro em seu são juízo  diria isso” disse Mané.

    - Permitam-me sugerir minhas costelinhas, bale o cordeiro, e com um risinho soma, está macia e sucosa. Também recomendo minha paleta, assada ao ponto com alho e alecrim. Os rins com vinho do Porto e lascas de pão preto....
    - Mas isso é horrível! Exclama Ricardo, este animal pede que o comamos.
    - Ao menos parece que a ideia não o desagrada, diz Mané. Os três ficam olhando fixamente o quadrupede que espera suas respostas com olhos aquosos enquanto começa a ruminar e engole o bolo digestivo. Na mesa está criada a tensão. “Não posso” pensa Serjão, e diz:
    - Vou comer uma salada com palmito e aspargos.
    - Eu quero o mesmo, não, não melhor uns crudités. Disse Ricardo.
    - Para mim, raviólis de espinafre, pede Mané.
    O cordeiro Gabriel faz uma reverencia de cabeça e se afasta rumo a cozinha. O maïtre reconhece seu amigo Serjão e se aproxima cerimonioso. Ao perceber suas expressões confusas decide esclarecer-lhes a situação.
    - Benvindo ao Rodizio Vanguardista, o churrasco do futuro! Depois abaixando o tom de voz continua: Serjão, senhores... este local faz parte de uma cadeia vegana camuflada. Os clientes se sentem incômodos ao ver um inocente animalzinho pedindo que lhe devorem e logo todos mudam de hábito alimentício.
    - Eu entendo, disse Serjão, depois dessa experiencia creio viro vegetariano.
    - E eu vegano, diz Ricardo.
    - Eu me torno crudivorista, teima Mané.
    Um frango caipira salta entre as mesas e dá ordens à cozinha: Uma couve-flor com gergelim na mesa oito!”
    - E causa o mesmo efeito com todos os clientes? Pergunta Serjão.
    - Com todos não, suspira o maître olhando a mesa do lado onde uma vaca, com graciosos movimentos de anca, executa uns passos de bolero diante de um casal.
    - Trilegal! Que linda vaquinha! Aplaude entusiasmado o homem e pede: Um bife a cavalo e fritas, tchê!
    - Para mim a milanesa, diz a mulher e de entrada um figado acebolado! Ao ponto e com bastante salsinha, pode ser?
    - Com os gaúchos ainda não funciona, murmura o maître.


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