Pied du Porc à la Sainte Ecolasse.


Pied du Porc à la Sainte Ecolasse.

No verão de 88 andava por Aix-en-Provence com Alejo e Bernd. Fomos visitar Ekkehardt Ulrich, que cursava uma disciplina de Direito Espacial. Nos entretínhamos em Les Calanques de Marselha, nas horas do sol, e à tardinha em les Cours Mirabeux bebendo chopp nas esplanadas. Um dia decidimos jantar quase às onze da noite, nessa hora estavam fechando, mas entramos numa brasserie alsaciana pelo meio do nevoeiro de fumo. Então, ainda se fumava em restaurante. Os garçons andavam apressados. Entrando e saindo pela porta batente. Começamos mal quando Ekke pediu Pieds du cochon e o garçom me corrigiu com cara de ofendido: “Notrês pieds du porc a la Sainte Ecolasse” com a boca na forma de um cu de galinha em cada o e u pronunciado. Nos trouxeram jarras de chopp com copinhos de kirsch e uma travessa com chucrute e linguiça.

O chucrute parecia um vomitado e as linguiças murchas. Alejo declarou: meus pés de porco estão incomiveis. Não lembro o que pediu Bernd mas disse em português que era uma “bazofia”. Alejo me perguntou: “Como está teu rabo, Cido?” Não, tinha segundas intenções. Eu respondi que me deram a parte da rabada que fica mais perto do cu. Ullrich perguntou ao garçom se podia trocar o chucrute por outra coisa. “Vocês não gostaram do nosso chuchoute a l'alsaciene”! Juro ter ouvido falar a um sininho. Então Ekkehardt respondeu categoricamente:: “C'est unne merde” justo no momento que o maître passava por ali. Sabem o que são os olhos de um louco? O maître os tinha.
  • Mas o que é isso? Grasnou furioso, forasteiros a criticar a cozinha francesa? C'est la dernière goutte! E olhando a mim e Alejo que somos sulamericanos, quando vocês ainda eram canibais e bebiam cauim em crânios de tupiniquins já comíamos pratos sofisticados. Os japoneses da mesa ao lado fotografavam. E o maître prosseguiu: “E nosso fromage Munster,
    que em toda vossa desgraçada vida não foram capazes de fazer e ainda criticam o chucrute.
Aquele chopp com kirsch havia me subido à cabeça, por isso meti a colher: “Quand vous arrêtez de vou tromper, apporte moi un altre bière...
O maître deu um grito de raiva:” E esse que fala francês” e me apontou o dedo. ...s'il vous plaît, somei tentando apaziguar. Não colou. Seu dedo descreveu um semicírculo e apontou a porta. “Sortez d'ici!” . Nos precipitamos para a rua passando entre os garçons de casaco vermelho.

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