Se tivesse que escolher
uma bebida, além da água, seria o café. Sou praticamente
intratável antes do primeiro café do dia. O café me põe no dia,
ao me tirar do torpor do sono. Já tomei café de todos os matizes,
com menos pompa, do péssimo ao suprassumo da rubiácea. Todos
serviram ao seus propósitos e aos meus dadas as circunstância de
cada um, dele e minhas. O mais pomposo que tomei foi com o Magrão e
o Ulisses Riba na praça de San Marco, ao som de piano, cello e um
sopro que não me lembra, pelo estado ignorante que me encontrava,
isso quer dizer que nem conhecia o instrumento de sopro, dai que não
posso lembrar de alguma coisa que não conhecia, lembro de um sopro.
Ulisses tinha problemas com o expresso na Itália, ele gostava de
café fraco, e pedia para encher a xícara, que era pequenina, e o
mais cheio que os bartenders faziam, era um três quartos de xícara,
o quê para eles já era falta de educação. Aqui na Única,
brinco: Coloque só o que cabe na xícara, mas mesmo assim
transborda. É cultural. Aonde peço café curto, tenho que ser
enfático, e além disso devo vigiar a produção, a tal ponto que há
uma maquineta que tem três modos: curto, meio e cheio. Se peço
curto, a mocinha sempre diz: Ah mas sai tão pouquinho!
Lá pela terceira vez
que fui para o nordeste, em estradas, comecei a me dar conta que
podia reconhecer o estado que estava pelo café, e que seria possível
ainda dividir o estado mineiro em três regiões menores:
mineiro-paulista, belo-horizontino e baianeiro – metade baiano,
metade mineiro – desde a torra total do sul à água de batata, pó
de café reaproveitado – mas café – de Teófilo Otoni. No 'sul'
da Bahia – Vitória da Conquista, Jequié, Valença – a coisa
começa a descambar para a cevada. Entretanto em Morro de São Paulo
foi onde tomei um café fantástico, da mão do Senhor Taborda, perto
da praça da Igrejinha, cremoso e com espuma dourada, e incrível não
o fazia usando máquina. Não havia máquinas em Morro de São Paulo
naquele então. Já o café mais raro que tomei foi na rodoviária
de Palmares, Pernambuco.
Uma histórinha sobre
café: Era uma vez um carnaval em Pirassununga tomava café na casa
da sogra do Osvaldo, quando chegou do sítio, Seu Antônio, com
leite, ovos e milho verde. Osvaldo ofereceu café ao homem. Ele
sorvia-o com muito gosto e apreço. Para quebrar o gelo, alguém
disse-lhe: Bom esse café, né, S'Antonho. Sa menina! De rodoviária!
Café com gelo. Não é
café frio. Deve ser fresquinho, quer dizer, feito na hora e
despejá-lo sobre bastante gelo. Se for adoçar, faça-o antes,
depois quando gelado ele não consegue dissolver o açúcar, sendo
que a dissolução aumenta com o aumento da temperatura. Então despeje o café ainda quente sobre as pedras, muitas, de gelo. Diverta-se, refresque-se!