Até o começo dos anos
oitenta, os indianos para mim eram todos maconheiros. Explico. As
repúblicas que frequentava e havia um maconheiro, havia incenso,
incenso, naquela época, e para mim, tanto para mim que nunca havia
dito isso antes, incenso era coisa de indianos, e em Ribeirão quem
ocupava o lugar dos indianos, já que não havia uma viva alma
indiana nesta terra, eram os maconheiros. Eu até tentei sentar
cruzando as pernas shivamente, budamente, mas que nada, não era
minha praia, cruzar as pernas, o resto eu encarava e tirava nota
alta. O tempo passou, fui pelo mundo, e no mundo, isso é valioso, os
acontecimentos que guardamos soem ocorrer no mundo, em cima disso,
conheci um indiano, que jogava futebol como eu cruzava as pernas, e
nos convidou a comer um frango ao curry. Eu namorava uma portuguesa
que me fez acreditar que a primeira palavra ocidental a se referir ao
tempero indiano é a palavra portuguesa: caril. Assim que quando
chegamos à casa de Sayed, havia ali todos esses aromas.
Horripilante. Eu não sei se é costume na Índia acender incenso ao
receber par um jantar, por exemplo, eu sei que é costume do faquir
fazer soar a flauta e fazer a cobra subir ( Jorge Mautner). Carreguei
durante anos duas impressões, o frango ao curry, soberbo, e o
incenso sem maconheiro, mas sim um indiano, Sayed, nome que parece
árabe, ou é árabe.
Cortei a manga em
cubos. Ralei gengibre. Piquei uma cebola roxa. Um dente de alho. Um
tiquinho de pimenta dedo de moça.
Numa panela de fundo
grosso, botei três colheres de açúcar, três de vinagre, a cebola,
o alho, a pimenta, uma casca de limão, o gengibre, três ou quatro
cravos, uma colher das de café de curry, um pitada de canela e
deixei cozinhado, eu não coloquei azeite, ou manteiga ou óleo, não
coloquei, juro. Então quando estava tudo cozido botei a manga em
cubinhos. Voilá.
O chutney é uma
conserva. Conserva agridoce. Assim que vai melhorando com o tempo. Bom é fazer agora para fazer uso no natal, com lombo de porco, com cordeiro, com peito de pato.
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