Risoto ao Café e Alcaparras.


Risoto ao Café e Alcaparras.




O procedimento é o mesmo do Risoto a milanesi em vez de açafrão, café. Manteiga, cebola – usei roxa – vinho branco seco, um café expresso e alcaparras. Na sequência, depois que o arbóreo absorve o vinho, dou-lhe café e então entro com o brodo – usei caldo de frango – depois vem o 'mantecato', parmesão.   técnica do mantecato clique sobre a letra azul;

Penso que ficou muito marrom. Mas se usasse menos café creio que perderia a força desse amarguinho que sinto a cada garfo. É um gosto de festa. Um gosto de sair de casa sem sair. O café inventou o paulista, negro, pardo, o oriundi, os galegos e deu razão de ser aos mineiros com seu leite.



Fico pensando de onde me veio essa ideia de alcaparrar a coisa, mas devo confessar que deveria pô-las em quantidade, confesso que foram as últimas que haviam no vidro.
Assim os reparos que faria: dois expressos, para que fique um pouco mais amargo, e que fique mais escuro ainda. Acrescentar alcaparras.
Também acho que a cor da foto não tá lá essas coisas. Mas já estamos acostumados à feijoada.      

Pão com tomate. Pa amb tomàquet.


Pão com tomate. Pa amb tomàquet.







Os catalães creem piamente que foram os inventores do acepipe: Pão com tomate. E para que o surrealismo da coisa não passasse desapercebido, o catalão Salvador Dali quando interrogado disse: El pa amb tomàquet es català, jo tampoc. Algo como o pão com tomate é catalão, eu tampouco. Ele se julgava universal. Talvez o fosse naquele momento. Mas o ovo frito escorre pela tela, e o catalão mantém vivo o lendário pintor, porque senão, o coração não perdoa. Enfim, pão ou outro tipo de massa se casa a maravilhas com os americanos, mais asteca que, tomates.

Mas a coisa é simples e saborosa. Assim de simples: uma bela fatia de pão de massa forte e crescida com fermento natural – meio azeda – . Torro as superfícies. Então há dois caminhos. Um esfrego, gasto um dente de alho numa das faces. Ou não. Em todo caso: fatio um tomate bem maduro, ao meio, e o esborracho sobre a fatia de pão. Na catalunha têm um tomate sumarento, que colhido em outubro se mantem intacto até fevereiro, claro, dependurados num porão, e atendem pelo nome de tomata de penja. Tomata é dialectal. Eu temperei minha torrada sal e azeite. Duas possibilidades. Uma é comer. A outra incrementar com, bacom, jamon, parma, salame, sardinha, atum etc.


Salada com Arroz e Banana!



Hoje cheguei à hora do almoço com mais sede que fome. Aliás não sei o que é fome há décadas, tenho sim o apetite de leão, mas não é fome. O fato é que nem vontade tinha, mas fui pensando na salada, nas folhas escuras que tinha, no tomate cortado em cubinhos, na cebola idem, nos pimentões amarelo e vermelho, ibidem, numas azeitonas descaroçadas a ponta de faca. Sempre compro azeitona com caroço, me parecem mais firmes, mais reais, além de botá-las em menor quantidade nos preparos, porque dá preguiça descaroçá-las de montão.
 De carboidrato pensei no arroz frio. E arroz lembra banana. Tudo regado com azeite e umas gotas de limão. Umas gotinhas de pimenta comari nas bananas, só nas bananas. Gentilmente salpimentei. E comecei a emborcar. Foi uma delicia. Ainda por fim comi uns pedaços de frango ao molho!

Pulpo a la feria. Polvo à feira.


Pulpo a la feria. Polvo à feira. 






Em Ponte Vedra, e meio que por toda Galícia, se cozinha polvo em tacho de cobre. Particularmente em agosto é a festa do polvo. São polvos imensos. Esse que comprei tem um quilo e meio. Havia um grande e congelado em outro supermercado, mas custava uma fortuna o quilo e tinha cara de estar ali desde a inauguração do hiper. Nesse caso e sendo assim, é polvo para pesquisa, é múmia. Cozinhei como podem ver aqui    Cozinhando o Polvo.



 Uma vez cozido, fatiei-o em pequenas rodelinhas. Fiz uma infusão de azeite e paprica doce. Tenho uma de Santo Domingo, é um espetáculo. Mas pode ser com outras variantes. Assim que temperei com esse azeite de zúbia, como diria Quejada. Foi uma tarde inesquecível, um dia de polvo e eleições.
 Agora é estação de pesca. Costuma aparecer polvo fresco pelo Mercadão desses canaviais. No Pão de Açúcar também. O difícil do polvo é o ponto do cozinhamento. Não exagere neste afazer. Porque, depois, comer será divino brinquedo.


Ceviche de Trilha. Salmonete. Roger.


Ceviche de Trilha. Salmonete. Roger.




Diz a lenda que os pescadores de camarão quando encontravam esse peixinho, por intuição haviam encontrado os camarões. Daí vir o nome de trilha, seja na trilha dos camarões. Tanto que tem gosto de camarão, camarão fresco, claro.


  É peixe com alguma gordura a mais que muitos, mas menos que a do salmão. É uma delicia na brasa. Certa vez os fiz fritos, empanados com farinha de mesa – farinha de mandioca – estiveram perfeitos.


Limpei-os e fiz filetes quais retirei alguma espinha com uma pinça. Reservei-os em geladeira. Para secundá-lo julianas de cebola roxa, pimentões amarelo e vermelho, alho, pimenta dedo-de-moça e leche de tigre.
O leite de tigre, ou la leche de tigre, perpetrei com as espinhas e cabeças das próprias trilhas, cozinhadas em vinho branco, um copo, um copo de água e cebola. O ideal seria ter um espécie de pimenta peruana que se chama aji limo, mas como não há fiz uso da dedo de moça, sem sementes e suas partes brancas interiores. Cozi por trinta minutos. Coei. Depois de coado, agreguei duas colheradas de leite de coco e o suco de um limão Taiti e a pimenta picadinha. No leite de tigre adicionei os legumes fatiados em juliana finas. Salpimentei os filezinhos de trilha, a gosto, e então adicionei os legumes imersos em leite de tigre, verifiquei novamente o sal. Uma parte comi ali na hora. A outra deixei marinando na geladeira. O fato é que o limão cozinha o peixe, e muda muito a a textura e o sabor. Em ambos os casos, a trilha esteve perfeita, o leite de tigre poderia estar mais picante. Fica para a próxima. Preferi ao segundo o completamente cru.


Polvo, Porco e Batata.




Bem limpinho, submergi o polvo na água fria e levei a ebulir. Tirei do fogo. Dei um banho de gelo. Fiz esse procedimento por duas vezes. Voltei a submergi-lo e levei a fervura por trinta minutos. Há outras maneiras. O cefalópode apresenta as mesmas dificuldades de ponto de cozido, se acontecer algo de errado, ele sempre se apresentará borrachudo, ou se muito cozido perde a textura e se apresenta intragável. Há um modo todo particular no norte Português e em Galícia, que é o de sustar, 'assustar' o bicho.


 Mergulha-se o bicho em água fervente e retira-se, e repete-se o procedimento por mais duas vezes. Há outra que é a de sovar, bater no polvo, para desmanchar suas fibras. Há quem cozinhe com cebola, porque a cebola ajuda a abrandá-lo. A grande dificuldade, além do ponto de cozido, está em manter sua pele integra, coisa impossível para polvos que estejam congelados há muito tempo. Coisa bem fácil de ocorrer. Há um polvo num hiper aqui de Ribeirão que já soprou velinhas. Tudo por haver um exagero no preço praticado.

A ideia de combinar polvo com porco vem lá de Figueira da Foz. Mas eu experimentei o acepipe em Coimbra pelas mãos de uma antiga cozinheira. Lá a coisa era feita toda no forno. Batatas, lombo, polvo e banha, isso fez a coimbrã, e é inolvidável. Processo moroso, mas cá cozi as batatas em águas de cozimento do polvo, uns cubos de filé de porco passei por frigideira untada com banha de porco, o mesmo fiz com as batatas e nesse fundo reduzi caldo do cozimento do polvo, sal e pimenta do reino branca tudo a gosto, e esta facultativa. O caldo reduzido para salpicar sobre o conjunto.


Banana da Terra frita e Maionese ao curry: levemente, caril.



Tenho desfrutado, sem trocadilho, da banana da terra. Levemente passada pela chapa, frigideira, com quase nada de azeite, tiquinho de sal, sim, e sempre alguma pimenta. As pimentas tem variado muito, desde um azeite de pimenta, que é o azeite onde fritei umas dedos de moça, um molho de pimenta batida com pouco de pimentão e um chutney de pimentão vermelho que fiz há muito tempo e que a cada dia me encanta mais. Deveria fazer outro, táquicaba. Uma vez o Chico pizzaiollo da Fiducia – ele fazia a lista de compras e sempre esquecia algo – pedia para incluir na lista, mas não nominava o artigo, dizia algo assim: uvitaquicaba. Era o vinho, o vinho com o qual preparávamos a calda de vinho, para uma sobremesa distinta.
Então hoje preparei  maionese – azeite e leite e caril – levemente ao curry a secundar a Banana da Terra. Ficou sublime. Mas lembre, curry ou caril – como querem os portugueses, e foram eles os primeiros a descobrir tal condimento, os ingleses depois piratearam – caril, mas levemente. É por tanto, que os Piratas são até hoje 'santos''heróis' para os ingleses, senão que, deuses.    

Filé-mignon de Porco com Porcini.




Um tornedorzinho de filé-mignon de porco bem limpinho das peles, passei por pimenta do reino apertada no pilão, daí o levei a frigideira com um tiquinho de azeite.

 O porcini tinha-o reidratando há duas horas, coei-o, lavei-o das terrinhas e levei-o a frigideira com creme de leite. Tudo com sal e pimenta do reino a gosto. O ponto da carne também é a gosto. E zéfini.

Comida de boteco. Antepasto de Sardinha. Sardinália.


Todo omega 3 que precisamos em um mês está em uma sardinha. Comprar omega três é tão só mais uma demência do consumo. Portanto como sardinha por gosto.
No mercado municipal há umas caixas de sardinhas salgadas. Outro dia encontrei umas miudinhas. Que limpas de cabeça, espinhas e um banho em água corrente com intuito de diminuir sua salação. As piquei miudamente, escorri toda sua água – apertando-as contra o fundo do escorredor de macarrão – voltei a picar para constatar que estavam bem desfeitas. Juntei a elas um monte de cebola, picadas quão miúdas quanto possível. Fiz o mesmo com um maço de cheiro verde, miudamente picados e misturados, provei o sal, dei-lhe um que de pimenta dedo de moça, também em troços mui reduzidos. Tudo em seguida reguei com azeite de olivas Picuã, que também tem um ponto de ardência. Verificando que tudo estava perfeito, botei tudo na geladeira, para que macerasse um bocado. É um descanso justo. Depois é só passar na torradinha. Mas confesso que comi com um prato de arroz, tíbio.




 Depois descobri que acompanha maravilhosamente uma salada de tomate. Com a torrada a coisa acaba pedindo um copo de cerveja.   

Comida de Boteco. Isca de Sasami de Frango.



Corte o peito de frango em tiras cúbicas com pouco mais que meio centímetro de lado e compridas como sejam, fica bonito, compridas. Prepare num liquidificador o tempero. Alho, cebola, salsa, cebolinha, uma folha de louro, limão, raspa de casca de limão, pimenta dedo de moça a gosto e um cubo de caldo de bacon. Cuidado com o sal pois o 'caldo' já é bastante salgado. Se quiser 'incrementar' pode colocar caldo de galinha. Misture a pasta aquosa obtida com as iscas de frango, dentro de um saquinho. Deixe repousando na geladeira





. Deixei de ontem pra hoje.
Na hora de fritar, passe por farinha e em seguida uma mistura de: leite, ovo e um teco de sal ( se for fanático, desfaça na mistura meio cubo de caldo de bacon ). Homogenize e passe por ela as tiras de frango enfarinhadas. E tudo seguido por farinha de rosca, eu uso pão de outros dias. Frito.



Sassami é o mingnonzinho do peito de frango.
O nome é dado pelos japoneses. Sua maciez é total. No demais padece dos mesmos problemas do frango de granja. Mas é o que nos resta, além de quando em vez trombar com um frango caipira, para então saber do que falamos. Entretanto para fazer frangos caipiras na quantidade que se faz os de granja, hoje em dia, necessário seria fazer do pais um galinheiro.

Bacalhau com Refogado de legumes.




A salga do bacalhau já é um cozimento. Como o ceviche é cozinhado em limão. É pensando nisso que se pode fazer saladas de bacalhau somente dessalgando-o e usando suas lascas. Nada impede outros cozimentos como na grelha, assado, nadando em azeite, assado no forno imerso em “natas”. Esse bacalhau que proponho é muito simples, barato. Com uma bandeja de lascas de bacalhau que compro no Mercadão por 6 rauls me lambuzo de tanto chacha!

Um pimentão vermelho em pedaços grandes para que se veja depois do cozimento, outro amarelo do mesmo modo, pode ser verde, pode ser uma só cor. Cebola igualmente cortada. Alho um tanto mais miúdo, uma abobrinha paulistinha, mas pode ser 'italiana' ( ou de árvore como se dizia a 30 anos atrás), uma berinjela. Frito a berinjela e a abobrinha em óleo bem quente, até bronzearem. Na frigideira vou refogando alho e cebola em azeite ( achei um de alberquineas, um show de sabor, olor e pouquíssimo ácido e barato, acho que a Espanha está em liquidação). E com certeza, sim, o bacalhau demolhou por uma manhã, por serem lascas é mais fácil dessalgar. Quando alho e cebola estão a dourar, acrescento os pimentões. Deixo refogando demoradamente. Nisso, bato no liquidificador um par de tomates, maduros, sem sementes, e quando os pimentões estão feitos, acrescento o suco de tomate e deixo ir amalgamando, quando vejo que o suco está desmilinguido dou ao refogado as abobrinhas e as berinjelas. Dou uns tombos, pra lá e pra cá, então somo as lascas de bacalhau. Retifico o sal. Dou mais azeite. Tudo é facultativo, menos o suco de tomate, que não pode ser de saquinho, pois tudo deve ser natural.   

Um dia de questionamentos. ElBulli-Alqueria



clic en la foto per a veure el album.

Em sòc molt mès a gust i vaig comprendre las meus mancas conceptuals.
Estou bem à vontade e compreendi meus defeitos conceituais.
Sent aixi puc mirar mès lluny sigui mès enllà.
Assim sendo posso olhar mais longe seja mais além.
Aliàs, enllà ès a dintre de la cosa en si mateixa, des del centre del concepte mateixo.
Aliás além é dentro da coisa em si mesma, desde o centro do conceito.
Tot i que no manca pas l'erotisme pel que fá el dibuix que surt l'ulls del comensal.
Näo falta erotismo ao desenho que aparece aos olhos do comensal.
N'hi haurà goig per al que menjarà? Això no em puc respondre, que això perteneix a ell.
Haverá prazer para quem come? Näo posso responder pelo que come.
Per a n'altres que fem, n'hi ha, i tant que tenim, això ès nomès que... goig sencer.
Para nós que fazemos é gozo puro e inteiro.

Espaguete de 2 metros. El Bulli-Alqueria.

cido galvão preparando pratos de 2 metros de espaguete no El Bulli.



A Roma fa com es fan els autòctons...
Em Roma faça como os romanos.
Una vegada a Roma vaig menjar l'Alfredo amb tota la misa-in-scene del llòc, que avui dia és només que per
Uma vez em Roma comi ao Alfredo, com toda a misa-in-scene do lugar, que já era nada mais que 
a turistes, i als carrers vaig tenir per a dinar un quartet de kilo de Parmiggiano-Reggiano amb un tros de pa,
restaurante para turistas, e na rua comia um quarto de quilo de Parmiggiano-Reggiano com um pe-
però mai ambdues àpats no van imprimir-me a la meva cavitat gustativa tan frenètic galopar del seu cavaller
daço de pão, nunca duas comida imprimiram na minha cavidade gustativa tão frenético galopar do seu cavalo gustativo.
gustatiu , com quan vaig florir el jardi de la sensació del gust al zigzaguejar per la meva llengua el 2m
como o que vai florecer o jardim da sensação do gosto ao ziguezaguear na minha lingua este espaguete de 2 metros. 

Gaspacho de Lagosta


Este é o texto original de 17 de setembro de 2007: blog original. 
  QUÈ N'HI HA del guazpacho andaluz en el guazpacho de bogavante d'en Ferran Adrià?  
Primer que la cuina Catalana des de molt disposa de tècnicas admirables amb els peixos de carn dura que aporten a les costes del llevant on hi ha una mena inumerable de guisats i altres varietats abracadabrant ( gracies Pere) de calderetes de peix. Entremig hi ha el suquet i doncs que dir de llur receptari amb llagosta i llamàntol - i altres cefalopodes - especialment a les del litoral gironì. 
Per atotareu n'hi ha senyals de surrealisme, com el brou de peixos bullits fins a l'autodissolució com se hom vulguessin que el peix deixi no pas la consciència del seu gust i que si l'inconsciente mateix del gust. Tot això vaig sentir quan he tingut davant meu El guazpacho de bogavante. Des de la quenelle de una brunoise perfect de tomàquets, concombres, pebrot vermell, ceba i ceboullete vert, que de vegades em aporta a Gaudi en lo particularism del mosaic i altres a Dali al non-sense del pla general del plat, i naquest cas que sigui la quenelle el nas u bé com es fossi l'arc abans d'un diluvi anunciat que no tardarà. El secret del Guazpacho de Bogavante ple a seny i un senyal de savieza.
Al costat de l'arca (nas) es fica un tomàquet on s'hi ha canviat llavors per a trocets de llamàntol i l'altre banda una petita ceba tendra i aclarida amb una rodanxa molt fina de pebrot del padró i tot al costat el llamàntol jagut i cobert per a rodanxes de pa a micro mesuras.

Guazpacho andaluz passa, passà, i passarà que el seu gust deixa la boca ple i desitjosa , clar de peix, que sigui fred com el bogavante.

Naquest cas la savieza d'en Ferran Adrià ès la savieza que vaig aportar la cultura gastronomica de seu poble i l'art seva mateixa.

Que há do gaspacho andaluz no gaspacho de bogavante ( lagosta com pinças) de Ferran Adrià?
Primeiro que a cozinha catalã desde muito dispõe de técnicas admiráveis em relação aos peixes de carne dura, que chegam às costas levantinas, onde há multitude de guisados e outras variedades abracadabrantes ( obrigado Pere, porque Pere dizia isso do meu texto em catalão) de caldeiradas de peixe. No meio disso tudo há o caldo e então o que dizer de seu receitário com com lagosta e bogavante - e outros cefalopodes – especialmente do litoral de Gerona.
Por todo lado há sinais de surrealismo, como o caldo de peixes cozidos até a auto dissolução como se quisesse que o peixe deixasse não só a consciência do seu gosto mas sim seu inconsciente mesmo.
Tudo isso senti quanto tive diante de mim o Gaspacho de Bogavante. Partindo da quenele de brunoise perfeita de tomates, pepinos, pimentão vermelho, cebola e cebolete verde, que as vezes trazia Gaudi no seu particularissimo mosaico e outras Dali do non-sense do plano geral do prato. E neste caso que seja a quenele o nariz ou bem como se fossi a arca antes de um diluvio anunciado e não tardará. O segredo do Gaspacho de Bogavante é estar cheio de signos e um só sinal de sabedoria.
Ao lado da Arca (nariz) se coloca um tomate, donde se trocou sementes por pedaços de bogavante e do outro lado uma pequena cebola tenra e clareada com uma rodela muito fina de pimentão do padrão (tipo de pimentão verde, pequeno e não ardido) e do lado oposto jaz o bogavante coberto por rodelas de um micro pão.
Gaspacho andaluz passe, passou, e passara ( isso em catalão tem o sentido de abrir caminho a algo que se quer muito e cheio de honrarias, no caso o gaspacho) que o seu gosto deixa a boca cheia e ainda desejosa, claro de peixe, mesmo que seja frio como o bogavante.
É uma receita que fiz no El Bulli no ano de 2007.

Mexilhões em escabeche de beterraba.






É uma receita que até mesmo Jung, que não se “baseia” tanto na sexualidade, diria: Fundamentos sexuais, porque se fosse Freud diria: libidinoso. Não sei se poderia negar a assertiva junguiana, dada a terrosidade da beterraba, a vulvanidade do mexilhão e somado a essa cor da beterraba.
Os mexilhões coloridos, vermelhialaranjados, são os machos, os ou as, clarinhas são as fêmeas. Eu gosto muito de mexilhões e das mexilhonas.
Depois do Perequê, no Guarujá, na estrada de Sorocotuba ou ali perto, no Dalmo's, comi uma bandejada de mexilhões, que pelo preço jamais esquecerei. Um dia cruzei do mercado Modelo para Itaparica e as dez em ponto me ofereceram um catado de sururu ao vinagrete, (vinagrete nesse caso é tomate, cebola e coentro picadinhos) e sururu é mexilhão. Em ambos os casos me morri de tanto comer, porque as companhias em geral “odeia” frutos do mar e 'muito, mais, ainda' coentro, então pedem um filé de peito de frango.
Dai que outro dia fui na casa de um conhecido, por questões eleitorais, e lá há um loureiro. Um loureiro é raridade. Encontramos até nas piores casas do ramo, umas folhas de louro embaladinhas. Mas um loureiro! Nein. “Roubei” umas ramas do loureiro do Zé Pograma. Fiz o que pude com o louro fresco. Até que chegou o momento da beterraba. Combinou à perfeição. O olor é indescritível.
Comecei a fazer uma fritada de cebola, beterraba, alho e louro, que me pediu vinagre. Nada mais nada menos que 'Escabeche”. Logo de seguida aquilo começou a me pedir algo mais, eu disse vinho branco seco, cabernet, era o que tinha, e continuou a pedir... Tinha na geladeira uns camarões, lagostins, lulas e mexilhões que trouxe de Ubatuba. E terminei por casar beterraba, louro e mexilhonas e mexilhões. Cozinhei uma beterraba desde a água fria, fatiei-a em rodelas bem finas, enrolei-as como se fosse um cone. Recheei esses cones com uma maionese de leite e óleo de milho com estragão fresco.   pelasbarbasdosmexilhões.

Carpaccio de Camarão Cinza, Ferro e Wassabi.



Carpaccio de Camarão com Wassabi.

Dizia Oswald de Andrade que somos um povo, culturalmente, antropofágico. Mastigamos, tiramos as espinhas, engolimos, traduzimos para a nossa cultura e já era.
A tese do Oswald pode ser discutida, mas esta não é a praça que merece essa discussão. No entanto traçando paralelas, tenho visto como a coisa funciona na culinária. Lembro do tomate seco e sua chegada triunfal. Do desembarque foi direto para a pizza, as macarronadas, o café da manhã, o lanche, o chá da tarde etc. Do café da manhã à larica reinou soberano por uns meses, ou ano não sei. Cedeu lugar à próxima novidade. Hoje, há quem faça tomate seco em micro-ondas, nada contra, mas muito menos a favor, sou neutro como o STF.
No entanto antes do tomate seco houve o carpaccio. Cheguei a ver saches e saches de parmesão – tipo sabão em pó amarelo (a granel) cobrindo o disco de carne – lagarto – melecado por tubos de mostarda amarela e semeado de alcaparras. O que fora uma brincadeira gastronômica para italianos virou um prato obrigado a empanzinar brutos.
Com essa liberdade e esquecido de autocriticas é que fiz o meu carpáccio de camarão cinza.
Retirei suas cabeças e cascas do rabo e reservei-as. A sua tenra carne amassei, até que amalgamada formou um disco, sob um plástico e do outro lado do disco outro plástico, levei-o ao congelador. E quando congelado e dez minutos antes de degustar a coisa, pousei o disco sobre um prato onde tinha feito um círculo de Wassabi pasta. O molho que coloquei sobre ele, perpetrei moendo no liquidificador, as cabeças e as cascas com um choro de vinho branco seco. Salpimentei. E viva a antropofagia cultural.





Lula na chapa.





Na verdade esses anéis são de Sépia da costa chilena, os encontrei no Extra. São bem mais grossos que a Lula. Lula e Sépia são cefalópodes, porque têm os pés na cabeça. Obedecem o mesmo critério de cozimento que as lulas, mas se dão maravilhosamente na chapa – frigideira com pouquíssimo azeite –. Uma vez na chapa, deixei os anéis dourarem, ficarem bem seladinhos, então lhes dei um tombo, para que caíssem do lado branco e ali permaneceram chiando, quando a chiadeira diminuiu, estavam prontos. Havia picado uns dentes de alho, um punhado de salsinha, miudamente, aos quais temperei com sal e bastante azeite, emulsionei, pois o alho se presta a isso e cobri os anéis carnudos de Sépia. Sépia também é cor, cor de fotografia velha, esmaecida, tem no Instagram.